terça-feira, 3 de novembro de 2009

CARTA ENVIADA PELO PRESIDENTE HORCADES...

... AOS ASSOCIADOS É UM MANIFESTO PRÓ-IMPEACHMENT

Prezado Tricolor,


Na semana passada os associados do Fluminense começaram a receber uma carta enviada pelo Presidente Roberto Horcades que é um verdadeiro manifesto pró-impeachment, senão vejamos:



Em nenhum momento o pedido de impeachment questionou os serviços prestados pelo Presidente ao Fluminense. Contudo, “o simples desejo de contribuir para o engrandecimento do nosso Tricolor” obviamente não é o único requisito para uma pessoa se candidatar ao cargo de maior importância do Clube. É preciso muito mais.



“Projeto de recuperação da sede social está em curso”. É preciso que o Presidente conheça melhor o Clube, pois quem o freqüenta não verifica nenhum projeto de recuperação, mas sim de deterioração e abandono cada vez maior de nosso patrimônio. “As melhorias são visíveis”; “tem este Presidente preocupação com a marca Fluminense”. Sinceramente gostaria que isso fosse verdade.



“Tenho respeito a todo ser humano e à democracia”. Não são essas condutas que temos visto em inúmeras atitudes e declarações completamente destoantes da postura que deve ter um Presidente do Fluminense.



“Estou de peito aberto para, unidos, tirarmos o futebol profissional...” “O único caminho é a união”. Porque só agora Presidente? Havia necessidade de estarmos nessa situação? O teor dessa carta demonstra que o Sr. está de peito aberto e buscando uma união do Clube ou trata-se apenas de um discurso demagógico? Diante de toda essa humildade, quais as atitudes efetivamente tomadas pelo mandatário maior do Clube para que tivéssemos essa união?



O pedido de impeachment não foi feito apenas pelo aumento absurdo da dívida do Clube, mas sim por um conjunto de fatores de extrema gravidade. O que está a cada dia aumentando a divida de maneira inimaginável não é a atualização monetária como quer fazer crer o Presidente em sua carta, mas sim as diversas atrocidades praticadas pela completa ausência de gestão profissional, responsável, com transparência, sem fisiologismo, sem nepotismo, etc... A reunião e o procedimento utilizado para aprovação das contas, dita e repetida com orgulho a todo momento na carta do Presidente, foram vergonhosos, o que aliás, já vem acontecendo há tempos no Fluminense e o que também já passou da hora de darmos um basta.



“Faltou experiência por parte de nossa Administração. A procura por ingressos nos surpreendeu, pois achávamos que, por termos dobrado o preço dos ingressos, a procura não seria tão grande”. Como faltou experiência se já tínhamos tido outros jogos da própria Libertadores com uma imensa procura por ingressos? Como imaginar uma procura não tão grande para uma final de Libertadores, onde eliminamos anteriormente, de maneira épica, times como o do São Paulo e do Boca Juniors? Mesmo que admitíssemos que a falta de experiência tivesse sido a causa de tudo o que aconteceu, ela não elide a responsabilidade do mandatário maior do Clube, mormente por não ter cobrado outra postura e conduta de seus prepostos antes, durante e depois dos fatos. Ao revés, permitiu que um de seus principais homens de confiança, funcionário do Clube, fosse aos jornais dar declarações de cunho político, expondo e prejudicando, mais uma vez, a imagem do Clube.



“Assim, toda a diretoria, sem exceção, da qual faziam parte muitos dos que assinaram o manifesto pró-impeachment, nela incluindo-se o Vice-Presidente Geral, resolveu, por unanimidade, vender para cada um dos membros do Conselho Diretor e Fiscal e da Mesa do Conselho Deliberativo uma quantidade significativa de ingressos.” Se isso ocorreu realmente todos erraram e deveriam ser punidos, porém cabe ao Presidente do Clube a responsabilidade política-jurídica por decisões teratológicas, irresponsáveis e imorais como essa. Não se vota nem se negocia princípios. Foram duzentos ingressos para cada um dos citados enquanto até morte poderia ter acontecido na frente do Clube.



Aliás, é bom frisar que o desvio de ingressos para cambistas não foi um problema apenas na Libertadores. Eu mesmo já venho cobrando no Conselho Deliberativo, há muito tempo, uma outra postura do Clube. Mesmo após todo o ocorrido, quem está indo a qualquer dos jogos do Fluminense tem visto uma verdadeira enxurrada de cambistas, independente do preço dos ingressos e da procura pelos mesmos e ninguém no Fluminense toma nenhuma providência.



“Vale salientar, que todos os assessores, diretores e vice-presidentes demitidos e o Vice-Presidente Geral compraram, cada um, quantidade considerável de ingressos para atender às suas necessidades”. Ao meu ver, trata-se de uma confissão que agrava ainda mais a responsabilidade do Presidente, pois comandou tal processo e ou permitiu que ele fosse deflagrado. Ademais, é importante esclarecer que tais pessoas foram demitidas dos respectivos cargos por aspectos políticos e por terem votado contra as contas da atual gestão e não por terem adquirido os referidos ingressos. Somente para lembrar, no primeiro mandato do Presidente Horcades ele também brigou com toda Diretoria, inclusive o Vice-presidente Geral da época. Em relação a esse assunto, frise-se que até o momento, ninguém, absolutamente ninguém foi punido ou perdeu seu emprego por tudo que aconteceu na Libertadores.


“A conta em nome do Vice-Presidente Social existiu durante um ano e meio da minha gestão. Eram recursos obtidos pelo próprio Departamento Social e davam respaldo financeiro ãs realizações dos seus eventos, independente dos recursos do Clube. É importante ressaltar que esta conta corrente, devidamente contabilizada, sofria auditoria independente e análises dos membros do Conselho Fiscal, como qualquer outra conta do Clube. Quando foi contestada, foi encerrada, embora nenhuma fraude ou indício de má-fé tenham sido constatados.” Outro ato absurdo. O presidente Horcades antes de realizar tal prática deveria consultar o seu Departamento Jurídico ou um dos 7 (sete) escritórios de advocacia contratados pelo Fluminense, alguns a peso de ouro, para constatar se tal procedimento encontra amparo legal ou estatutário. Quem autorizou tal procedimento? Onde consta tal possibilidade no estatuto do Clube ou mesmo na legislação brasileira? Tudo isso foi feito à revelia do Conselho Deliberativo e se o Conselho Fiscal fez isso realmente também desrespeitou o estatuto e a legislação. O argumento de inexistência de fraude ou má-fé é inócuo, uma vez que a conta por si só já é completamente irregular e mais absurdo ainda é o comentário de que precisou ser contestada para ser encerrada. Imagina o que não sabemos e portanto não podemos contestar...



Ainda sobre esse assunto, é importante esclarecer também que dificuldades administrativas e financeiras não podem servir de desculpa para práticas como essa, até mesmo porque essas mesmas dificuldades foram criadas por administrações como a que ora se vê no Clube. Vale lembrar que o Presidente Horcades foi reeleito, ou seja, sempre teve ou deveria ter noção da situação, dos problemas e das soluções para o Fluminense.



“Como conseqüência, assinamos um Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público, com o objetivo de estreitar laços entre os torcedores e o Clube e garantir ainda mais transparência da gestão”. Se algo foi assinado não foi eficaz, não está sendo respeitado e também não há que se falar em “garantir mais transparência da gestão, pois não existe gestão alguma e muito menos transparência.



Em sua carta o Presidente tenta também justificar a relação obscura e equivocada existente com a Unimed através de argumentos administrativos, jurídicos e burocráticos, esforçando-se para convencer as pessoas de que a Patrocinadora não tem ingerência nenhuma no Fluminense. Não vale nem comentar muito...



Já na terceira página de sua extensa carta, o Presidente menciona que “o FLUMINENSE, que passa por um período difícil no Campeonato e em suas finanças”. Na realidade Presidente, o FLUMINENSE há muito tempo vem passando por Campeonatos e momentos difíceis, que são fruto exclusivo de administrações como a atual e dos Conselhos anteriores que se omitiram, permitindo que chegássemos ao caos em que estamos hoje. O resultado de campo é e vem sendo também há tempos apenas reflexo disso tudo, com alguns pouquíssimos títulos vencidos pela por circunstancias de momento e não por uma infraestrutura sólida que produza bons resultados (vide campanha da Libertadores e resultados após um ano)



O Presidente menciona lucro com jogadores. Mas em que foi investido o dinheiro. O problema do Fluminense não é a sua receita, mas sim a inimaginável, absurda e estratosférica despesa. Ninguém em sã consciência faria com dinheiro próprio ou de sua empresa, escritório... o que se faz no Clube. Já passou da hora de darmos um basta nessa sangria desatada.



“No entanto, reconheço que equívocos existiram em alguns casos, algumas más aquisições foram efetivadas, mas qual clube acerta sempre na compra e venda de um atleta?” Novamente o Presidente confirma o prejuízo que sua administração vem causando ao Clube e tenta justificá-lo através de argumentos completamente frágeis e que procuram transmitir uma humildade impressionante e destoante de todas as condutas que tenho visto por parte de nosso mandatário maior do Clube.



Não obstante todo acima exposto, o Presidente se superou mesmo foi quando tenta passar para o associado que o grupo de conselheiros que assinaram o pedido de impeachment é responsável pelo atraso de salários e os resultados pífios do futebol. Vale lembrar que o pedido de impeachment foi protocolizado em 10/09/2009 e o Fluminense estava em que colocação no campeonato brasileiro? Ganhamos o carioca ou qualquer outro torneio/campeonato? Os salários estavam em dia? Fomos nós que marcamos duas greves dos funcionários do Clube? Foi em razão do impeachment que o Fluminense empregou os parentes de vários dirigentes? Foi a partir do pedido de impeachment que começou o péssimo serviço e que passamos a receber valores muito pequenos dos concessionários do Clube? Foi em virtude do impeachment que se contratou 7 (sete) escritórios de advocacia, alguns a peso de ouro? Foi o pedido de impeachment que contratou alguns pessoas e ou serviços terceirizados por valores elevadíssimos e muito acima do que paga o mercado? Foi em função do pedido de impeachment que se contratou 38 (trinta e oito) jogadores para o elenco atual? Quem contratou e rescindiu com 5(cinco) técnicos e diversos outros profissionais que os acompanhavam? Quem perdeu a oportunidade do Ato Trabalhista? Foi em razão do pedido de impeachment que a Patrocinadora passou a ter ingerência na administração do Clube? Foi em razão do pedido de impeachment que ninguém no Fluminense conhece os direitos e obrigações na relação Fluminense-Unimed?... Sinceramente Presidente, essa o Sr. abusou...A linha da humildade e do coração aberto era melhor.



Em relação ao problema da Diretoria de Patrimônio outro equívoco do Presidente Horcades, que deveria consultar ao menos um dos inúmeros advogados que contratou para o Clube. Existe previsão expressa no estatuto do Clube de que o Vice-Presidente Geral coordenará tudo que se relacione ao patrimônio e a conservação dos bens do Fluminense, mantendo sob sua supervisão a Diretoria de Patrimônio. Se ele não gosta mais do seu Vice-geral ou acha que ele não deve ou não tem competência para exercer tal função é outra história, mas nem o Presidente, nem o Conselho Diretor e nem o Deliberativo poderiam aprovar tal proposta como menciona em sua carta o Presidente, exceto através de uma alteração do estatuto, que exige quorum qualificado e que não aconteceu in casu.



Se há um ponto em que concordo com a carta do Presidente Horcades é no que ele conclama ao associado: “Prezado Associado, VAMOS NOS UNIR, POIS UNIDOS VENCEREMOS A CRISE”. Contudo, precisamos unir não apenas os associados, mas todos que amam o Fluminense em torno de princípios, metas, projetos, profissionalismo, transparência, organização, hierarquia, respeito, modernidade, competência, democracia, credibilidade, etc... No passado já fomos modelo disso tudo e como somos visto hoje? Já passou da hora de dizermos claramente que o Fluminense não pode continuar dessa maneira.



Essa humildade e esse coração aberto tão decantados durante toda carta aos associados são bem diferentes das condutas que temos visto no Clube e contraditório até mesmo com o texto escrito pelo Presidente, onde alega está defendendo uma pacificação e mesmo tempo faz questão de atacar, atacar e atacar pessoas, o que, mais uma vez, em nada contribui para o Fluminense.



Ademais, não tenho dúvida nenhuma que se tivesse toda essa humildade e coração aberto a situação não teria chegado onde chegou. Nesse sentido, gostaria de deixar claro que independente do resultado do processo de impeachment ninguém tem motivos para comemorar. Se ele for aprovado, E ACHO QUE VAI SER, tem-se logo em seguida que iniciar o processo de auditoria, de reformas lato sensu, com tomada de medidas mais emergenciais. Se não passar, o Presidente terá mais um novo e bem oportuno momento para “humildemente e de coração aberto” alterar esse status quo, inclusive através do diálogo direto com os diversos segmentos do Clube, sob pena de continuarmos com o Clube à deriva, se arrastando e sem nenhuma credibilidade. (vide texto anterior)



Da mesma forma acredito que iremos escapar do rebaixamento e todos nós como torcedores temos que comemorar, pois é insuportável e sufocante essa situação. Entretanto, NÓS, ENQUANTO DIRIGENTES DO CLUBE, só temos que nos envergonhar de estarmos nessa situação, pois a nossa responsabilidade não é a mesma do torcedor. O Fluminense já desceu três vezes e de lá para cá o que foi modificado? Isso é ridículo, patético... Não podemos continuar achando tudo isso normal.



Por derradeiro, gostaria de parabenizar publicamente à Flusócio, ao Peter Siemsen e ao Rodrigo Nascimento e seu grupo, que tiveram a coragem de decidir a favor do impeachment e alguns até de mudarem de posição em razão de uma reunião conjunta muito profícua e que já pode ser um desenho inicial da próxima eleição. Nessa reunião nós conversamos amplamente sobre a realidade fática do Clube.



Como disse no meu último texto, acho que Ideal Tricolor, Flusócio, Tricolor de Coração, Pavilhão Tricolor e todas as pessoas que desejam um Fluminense diferente e bem melhor do que está aí, com as características já acima mencionadas, tem que estar juntos na próxima eleição e para isso temos que trabalhar muito, sob pena de ficarmos mais três anos... Sei que as vezes é difícil, pois temos divergências pontuais, mas também se não tivéssemos seríamos um grupo só. Como na essência concordamos com quase tudo, precisamos dialogar mais e mais e mais, procurando fazer exatamente o que se fez agora, ou seja, escutar, refletir, ter paciência, humildade, saber segurar ânimos mais exaltados, ter calma com um louco ou outro de cada grupo que volta e meia surta, respeitar quem pensa diferente, etc... O Fluminense precisa, o Fluminense merece, o Fluminense vai mudar...



OBS: O TEXTO, COMO DE PRAXE, FICOU GRANDE, MAS AINDA MENOR QUE O MANIFESTO PRÓ-IMPEACHMENT QUE O PRESIDENTE ENVIOU PARA OS ASSOCIADOS.



Saudações Tricolores,



ADEMAR ARRAIS FILHO

Conselheiro do Fluminense Football Club