quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um Desabafo - Por Ademar Arrais

Prezado Tricolor,

Na qualidade de torcedor e conselheiro do Fluminense, eleito na última eleição pela chapa de oposição, gostaria de externar algumas considerações em relação a mais esse momento triste de nossa história, mas que nada mais é que o reflexo de mais de 20 anos de administrações patéticas, retrógradas, mentirosas, irresponsáveis e com diversas outras qualificações impublicáveis. Importante sempre deixar claro que pior que os Presidentes anteriores, foram as pessoas que ocuparam os diversos Poderes Constituídos do Clube que permitiram, ainda que por omissão, que os Presidentes fizessem o que fizeram.

Nesse sentido, já quero deixar claro que assinei o pedido de impedimento do Presidente Horcades não pelo provável rebaixamento, mas sim pelo fato do Fluminense há tempos estar sem qualquer comando em todos os seus segmentos, senão vejamos:

RELAÇAO COM A UNIMED
É claro que a UNIMED pode ser uma excelente parceira do Fluminense. É óbvio também que essa relação precisa ser modificada. Mas o que ela realmente faz no Fluminense hoje? Quais os seus direitos e obrigações para com o Fluminense? Qual a ligação do Sr. chamado de Gauchinho com as contratações de jogadores e o filho do Sr. Celso Barros? Até hoje não conheci ninguém que respondesse a essas perguntas e sinceramente não consigo acreditar nesse papo furado que o Sr. Celso Barros é Fluminense e por essa razão faz isso ou aquilo em nosso benefício. A UNIMED está no Fluminense porque obtém retorno, caso contrário não estaria. E nesse aspecto está completamente certa.

O contrato da UNIMED termina no final desse ano e acho que, dependendo da negociação, seria importante para o Clube uma renovação por mais um ano (período em que termina a atual gestão). Contudo, esse terrorismo de que o Fluminense acabará sem a UNIMED é uma balela ou desculpa para pessoas que dizem ter a solução para tudo, porém só dão a cara a tapa no Clube se tiverem um suporte financeiro já criado anteriormente. Outros Clubes em situação bem pior se levantaram e nós conseguiremos ultrapassar mais essa dificuldade também. Certamente vai piorar num primeiro momento e durante um bom tempo, mas com planejamento, profissionalismo, seriedade, credibilidade e um pouco de paciência as coisas se resolverão. Sem esses fatores não adianta UNIMED nem ninguém (vide nossos resultados do período contratual)

Aliás, esse é um dos problemas maiores que temos. Fazendo demagogia e mentindo para a torcida, os dirigentes ao invés de fazer o que tem que ser feito com uma visão geral e um planejamento responsável a curto e sobretudo a médio e longo prazo, como, por exemplo, pagamento de salários, amortização de dividas e investimento em infraestrutura, ficam prometendo imediatamente “grandes contratações”, títulos, etc...É melhor falar a verdade de que passaremos algumas dificuldades durante um tempo e superar efetivamente tais obstáculos, do que ficar nesse sofrimento eterno sem qualquer perspectiva. Um Clube como o nosso não pode ganhar títulos por uma mera eventualidade como tem sido, mas sim deve, ao menos, disputar todos os títulos em todos os anos como fruto de seu trabalho e organização (vide outros clubes que se estruturaram)

Outro aspecto que deve ficar claro é que o Sr. Celso Barros não é o santo que se prega nem salvador da pátria de nada e também vem contribuindo para inúmeras ações descabidas do Fluminense, como mais recentemente no boicote que fez ao trabalho do Parreira, no absurdo retorno do Renato Gaucho, Espinosa e Branco, etc...

Gostaria ainda de registrar que enquanto for conselheiro do Clube jamais aceitarei que o Fluminense seja refém de quem quer que seja. As declarações do Sr. Tote Menezes no Jornal Ö GLOBO em relação a saída da UNIMED em caso de aprovação do impedimento do Presidente soam como uma chantagem sob a qual também não me submeto. A UNIMED está no Fluminense há pouco mais de 10 anos e o Fluminense tem 106 anos.

Pa encerrar esse assunto, pelo que tenho visto, lamentavelmente, nem as oposições nem os pré-candidatos do momento estão tratando esse assunto diretamente com a profundidade e seriedade que ele merece e acredito que devem também ser questionados por todos. O presidente da UNIMED não tem que se meter em política do Clube. Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. No Fluminense é assim, funcionário vai para os jornais falar mal de seu empregador e fazer política, patrocinador oferece cargos de nomeação do Presidente e faz declarações à imprensa como dono do Clube, Presidente realiza contratos à revelia dos diversos Poderes do Clube, que por sua vez se omitem, etc...

O meu maior medo agora é que na situação desesperadora em que está o Presidente Horcades diante da UNIMED, ele renove esse contrato por período inclusive superior ao de seu mandato e com cláusulas absurdas, como acontece usualmente no Fluminense, e ainda à revelia de todos os Poderes Constituídos do Clube, do Departamento Jurídico, etc... (vide contrato Fred)

SALÁRIOS ATRASADOS

Os salários novamente estão atrasados. Mas como pode qualquer empresa e ou instituição pagar salários em dia, estando praticamente em estado falimentar e pagando salários completamente fora de mercado? Temos informações, jamais contestadas, de alguns empregados da área administrativa do Clube recebendo R$20.000,00, R$ 30.0000,00, R$ 40.000,00 quando o mercado de trabalho não pagaria talvez nem a metade aos mesmos profissionais. Outro fato relevante também é que o Fluminense, como se tivesse nadando em dinheiro, além de empregar diversas pessoas que participavam e ou que participam ainda da política do Clube, agora emprega filhos, ex-mulher e parentes em geral.

No futebol então a sangria é maior ainda e cresce a cada dia com inúmeras contratações e rescisões que são realizadas sem qualquer tipo de planejamento e satisfação aos poderes constituídos do Clube, sendo uma grande caixa preta sobre a qual não conheço ninguém que tenha informações integrais e fidedignas.

E ao invés de solucionar efetivamente tais questões, o que os sábios fazem há anos, correm para as instituições financeiras, que como todos sabem possuem “juros baixíssimos”, e pagam os salários atrasados. Quando não é dessa forma, é através de antecipação de receitas, o que também contribui para a inviabilização de qualquer planejamento que se tente fazer. A divida do Fluminense, somente na Gestão Horcades e diante de dados oficiais (que são questionáveis) aumentou 340% (TREZENTOS E QUARENTA POR CENTO)

Com essa realidade, que jamais encontramos em nossas vidas privadas, é óbvio que o Fluminense não poderia nem poderá nunca pagar em dia seus compromissos.

CONSELHO DIRETOR

O Presidente Horcades, que em seu primeiro mandato tinha brigado com todo seu Conselho Diretor da época, também repetiu o feito nesse seu segundo mandato. Sem adentrar ao mérito de tais brigas, o fato é que temos hoje uma Diretoria mais enfraquecida do que já era. Além disso, verificamos no contato com os mesmos de que eles próprios falam mal da administração da qual participam e em alguns momentos parecem até mesmo terem vergonha de fazer parte do Conselho Diretor.

Se não bastasse isso, os relatos das poucas reuniões de trabalho do Conselho Diretor demonstram total falta de liderança do Presidente para com seus pares.

JOSÉ DE SOUZA

Tenho visto algumas pessoas fazerem um verdadeiro terrorismo com a possibilidade do José de Souza assumir a Presidência do Clube. Independentemente da opinião de cada um em relação ao atual Vice-Presidente Geral, o fato é que não dá para manter o status quo.

Além disso, caso por alguma razão o vice assuma, já entrará com prazo de validade e não terá a menor condição de administrar o Clube sem uma imediata coalisão das diversas forças políticas do Clube (enquanto não chega efetivamente a profissionalização é claro, o que acredito apenas numa próxima gestão)

Vale salientar que para evitar o problema institucional, acredito que o melhor náo seria o impedimento do Presidente, mas sim uma administração de coalisão com ele. O problema é que pelos fatos que vem ocorrendo há muito tempo não dá para acreditar mais no Presidente e nem acho que ele queira e esteja preparado para esse tipo de coisa, sobretudo porque para defender minimamente os interesses do Clube teríamos que adotar algumas medidas extremamente radicais.
OPOSIÇÕES, A SITUAÇAO ATUAL E A ELEIÇÃO DE 2010

Alguns colegas que militam nos diversos grupos de oposição vem comentando receio que possuem em tomar essa ou aquela atitude sob a justificativa de que não seria a melhor estratégia para eleição de 2010.

Não é uma decisão fácil ser contra ou a favor do impedimento do Presidente do Fluminense, mas sinceramente esse tipo de argumento é apostar na política do quanto pior melhor. Porque os grupos e ou pré-candidatos devem esperar mais um ano e tal para contribuírem para o inicio do processo traumático de solução dos problemas do Clube? Que estratégia maravilhosa é essa que tem medo da máquina quando nós já não temos nem nunca tivemos a máquina administrativa? Que garantia é essa que em 2010 se fizer isso ou aquilo ganharemos a eleição? Até lá fazemos o que? E depois de eleito, trabalhamos para consertar aquilo que esperamos que fosse feito? Que incoerência é essa que define, por exemplo, o vice-presidente, como isso ou aquilo, mas tem medo do êxito de um eventual um mandato tampão dele?

Outra bobagem também é falar que eventual impedimento prejudicará a imagem do Clube. Imagem? Que imagem? Esse é o 4º rebaixamento e o que mudamos? Infelizmente tenho notado que os torcedores, sócios e conselheiros do Fluminense já estão até mesmo achando normal um rebaixamento. Vocês leram a reportagem do Tote no O GLOBO? Já perceberam como nem cobrança existe mais nas Laranjeiras? Estamos no fundo do poço, numa situação ridícula e merecemos mesmo ser sacaneados por todo mundo. Precisamos ter vergonha na cara e mudar radicalmente o Clube para ontem e não daqui há um ano e meio.

NÃO BASTA A SAÍDA DO VICE-PRESIDENTE DE FUTEBOL

Acho que não preciso falar muito da atuação do atual vice-presidente de futebol, pois todos já conhecem seu trabalho.

O mais incrível é que assim como Horcades foi reeleito, Tote Menezes ocupa ocupa tal cargo há mais de cinco anos. É realmente espantoso. Ainda que ele não tivesse cometido um erro sequer nesses cinco anos, só as declarações que ele fez ontem para o jornal O GLOBO já seriam suficientes para uma demissão sumária. São declarações típicas de um Clube de várzea e não do Fluminense Football Club

Contudo, tenho verificado muita gente que tem medo do impedimento do Presidente se esconder no discurso de saída do Tote Menezes. Não adianta APENAS mandar o vic-presidente de futebol embora. É preciso também a realização de outras medidas emergenciais, que dependerão diretamente do mandatário maior do Clube, como por exemplo:
1) Realizar uma administração tampão de coalisão com as diversas forças políticas do Fluminense
2) Fazer uma análise da folha salarial do Clube, inclusive do futebol, verificando a possibilidade de rescisão dos contratos que forem maléficos, contrários aos interesses e possibilidades do Fluminense;
3) Tentar negociar e ou se livrar de atletas que estão há anos no Clube com baixa produtividade, que também nada ganharam e ou que possuem notória baixa qualidade técnica, adequando gradativamente a folha a nossa realidade, assim como fizeram outros Clubes;
4) Realizar a dispensa de parentes dos dirigentes do Clube e de funcionários que ocupam postos de confiança da direção e que não possuam tal característica ou que a tenham perdido em razão de fatos passados, como, por exemplo, no caso da Libertadores;
5) Reunião com os diversos poderes constituídos do Clube e com as torcidas organizadas explicitando detalhes do atual momento e procurando sensibiliza-los de que o Fluminense precisa da ajuda de todos. No mesmo momento anunciar corte imediato de regalias de conselheiros, alguns sócios e da própria torcida;
6)Mudança do relacionamento com a UNIMED e procura de parceiros complementares;
7) Análise, revisão ou rescisão, quando for o caso, dos contratos de concessionários, terceirizações e fornecedores do Clube. Existem contratos atuais que ao invés de recebermos acho que deveríamos até pagar para nos livrarmos de tão maléficos que eles são aos interesses do Fluminense;
8) Tentar renegociar o contrato da adidas e na impossibilidade tentar viabilizar de alguma forma a rescisão, assim como outros Clubes também já fizeram;
9) Procurar com a máxima urgência viabilizar o CT do Fluminense;
10) Redefinir, inclusive com profissionais qualificados, todo o planejamento do Clube;
11) Fechar todas as torneiras de saídas indevidas de dinheiro do Clube;
12) Controlar a arrecadação das escolinhas e as despesas dos esportes olímpicos, verificando o equilíbrio econômico-financeiro de cada esporte diante do Fluminense. Acabar com arrecadações paralelas, etc...
O IMPEDIMENTO DO PRESIDENTE SERIA UM GOLPE

Diante da realidade fática conhecida por todos e acima parcialmente descrita é mentiroso o discurso de que o impedimento do Presidente é um golpe. Golpe foi dado no associado do Fluminense quando da última eleição e vem sendo dado diariamente em cada torcedor do Fluminense, que é motivo de deboche de todos os outros. Golpe são os pais de família, funcionários humildes, que não podem cumprir seus compromissos pelo não recebimento de seus salários. Golpe é termos programação de Greve Geral pelo não pagamento de salários. Golpe é o nepotismo existente no Clube. Golpe é a contratação de pessoas acima do valor de mercado. Golpe é o dado pelos membros do Conselho Diretor que sabotam e se envergonham da própria administração que participam. Golpe é não termos punição alguma para os comprovadamente envolvidos no escândalo dos ingressos da Libertadores. Golpe é dar o tratamento ao patrimônio do Clube que vem sendo dado. Golpe é dirigir o Fluminense com uma mentalidade de que “todo Clube que desce a 2ª divisão tem maior visibilidade”. Golpe é alienar o Clube para terceiros à revelia dos Poderes Constituídos do Clube. A palavra golpe precisa realmente ser melhor compreendida...

Não sou dono da razão, mas venho brigando juntamente com o Ideal Tricolor e diversos outros companheiros para mudar a situação do Clube. Peço desculpas ao amigo tricolor pela extensão dessa manifestação, que serve também como uma espécie de desabafo.
Um abraço,

Sds. Tricolores,

ADEMAR